O CFP (Conselho Federal de Psicologia) está revendo as regras da orientação psicológica feita pela internet. A entidade não tem dados sobre o número de usuários, mas diz que há uma demanda crescente por esse serviço, regulamentado desde 2005.
A orientação on-line é feita em poucas sessões, para ajudar a resolver uma queixa específica, como problemas escolares dos filhos ou uma separação. Segundo Carla Biancha Angelucci, presidente do CRP-SP (Conselho Regional de Psicologia de São Paulo), nesse caso não há vínculo como na psicoterapia, esta sim proibida de ser feita pela internet, a não ser em pesquisas acadêmicas.
A psicóloga afirma que o conselho quer definir maneiras de garantir o sigilo do atendimento na internet e estabelecer as formas de atendimento (como e-mail, MSN, Skype e similares).
"Queremos atualizar o texto, que é genérico, porque alguns tipos de comunicação audiovisual não estavam consolidados na época", diz. Também está na pauta do conselho paulista estabelecer o número máximo de troca de mensagens.
Hoje, psicólogos oferecem diferentes quantidades de sessões on-line. Em uma pesquisa em dez sites, foram encontrados limites que variam de quatro trocas de e-mails a 20 atendimentos de cerca de 50 minutos por MSN.
COMODIDADE
A falta de tempo é o principal motivo de quem busca a orientação on-line, segundo a psicóloga Daniela Julianetti, que oferece o serviço. "Também ajuda quem é tímido, não quer se deslocar ou mora em outro país."
Para a psicóloga Milene Rosenthal, a orientação imediata é um ponto forte do serviço que oferece. Foi isso que atraiu a engenheira de softwares Neli Duarte, 31, de São Paulo. Ela usou o serviço para resolver dificuldades profissionais, mas diz que o atendimento na rede não substitui a psicoterapia presencial, que faz há um ano e meio. "Lá, o psicólogo pode fazer uma avaliação melhor dos problemas." Para Julianetti, a distância impede um contato profundo, mas o serviço na rede tem o mérito de aproximar o público da psicoterapia.
O uso da internet na psicoterapia não é necessariamente novo - segundo a reportagem, remonta a 1997 -, mas ainda é um assunto controverso. Além das críticas que são comumente feitas sobre a internet estar dominando o espaço das relações sociais e tomando cada vez mais o lugar da interação face-a-face (as pessoas compram de tudo pela internet, falam com amigos pela internet, arrumam relações amorosas via internet e depois até resolvem suas tretas via internet), que talvez tenham lá seu mérito, existem outras questões práticas e éticas a se considerar.
O atendimento psicológico via internet teria vantagens óbvias: o menor custo, o acesso mais fácil e a comodidade tanto para o terapeuta quanto para o cliente seriam algumas a se ressaltar. Mas as desvantagens também existem. Um ponto que uma das psicólogas entrevistadas na matéria levanta pra mim, é perigoso:
"Também ajuda quem é tímido, não quer se deslocar ou mora em outro país".
Será que ajuda, mesmo? Caso a queixa que leva ao atendimento tenha relação com a timidez ou ansiedade social, preferir atendimento pela internet pode não ser mais que uma esquiva do cliente. Não querer se deslocar para fazer atendimento psicoterápico também pode ter relação com a queixa - afinal, por que a pessoa não quer fazer um trabalho presencial? Morar em outro país também talvez não seja uma desculpa, já que psicólogos existem em todos os lugares.
Fingir pela internet, então, é mole.
Fato é que a procura por "conselhos" via internet é bastante comum. Envolve um custo de resposta baixíssimo - basta enviar um e-mail, ou postar num fórum aberto qualquer -, com altas chances de obter reforço, pois o que não falta é gente oferecendo seus serviços via internet. Muitas vezes nem são serviços de fato - basta abrir fóruns de discussão de Psicologia em qualquer lugar pra ver o tanto de gente que aparece pedindo "uma ajudinha" para problemas que muitas vezes são bem complexos, ainda mais depois de um período "empurrando com a barriga", e muito estudante ou mesmo profissional responde, a princípio, com a melhor das intenções. Ou seja, aquela "ajudinha" ainda pode sair de graça.
A procura demonstra, no entanto, que o assunto deve ser posto em discussão. Será que funciona? Serve pra todos os casos de uma orientação pontual para um problema? Tem vantagens que superem os problemas que existem nesse tipo de comunicação? E qual é, afinal, o limite entre uma orientação psicológica e a psicoterapia de fato?
É um assunto que dá pano pra manga, mas que não dá pra evitar. Já existem algumas pesquisas sobre o assunto (como as do NPPI, citado na reportagem - clique aqui para acessar o artigo). Estudos de efetividade podem vir a calhar.
Muito bom, Aline!
ResponderExcluirPenso de maneira similar a vc. Ainda procuro suspender julgamento sobre isso tudo, mas tendo a ver com desconfiança esse negócio de atendimento pela internet. Mas quem sabe...
Seja como for, que seja BEM debatido antes de decidirem. O que quase nunca ocorre, mas enfim. Tenho fé! [/ironia]
Coincidentemente, parece que por enquanto aqueles que se levantam para defender essa prática também são os que se beneficiam. Portanto, não dá pra encarar como boa coisa, mesmo. Mas acho que PODE dar certo, por que não?
ResponderExcluirHá muito se diz que a internet está destruindo o espaço da interação social, que as pessoas estão se isolando, perdendo o gosto do contato físico, bla bla bla. No entanto, vemos que novas formas de interagir socialmente estão surgindo via internet (as manifestações em países islâmicos, onde a rede teve um papel importantíssimo, são um bom exemplo) e as previsões mais apocalípticas de que viraríamos robôs sem sentimentos não têm se confirmado. Acho que isso pode acontecer também na psicoterapia: damos grande valor à interação face-a-face, mas vai que os meios virtuais não são tão ruins assim...