Algum tempo atrás, quando eu ainda flertava com a Psicanálise, sempre que passava pelo templo da Igreja Universal do Reino de Deus aqui de Salvador - gigantesco, por sinal -, meu ex-namorado brincava comigo: "Olha aí os seus concorrentes!". Obviamente ele estava me sacaneando, mas me incomodava às vezes perceber que ele estava certo. Em muito, o trabalho de igrejas se confunde com certos tipos de trabalhos que certos psicólogos fazem. "Ajuda", "compreensão", "desenvolvimento da auto-estima", e para alguns, até "cura de males físicos e espirituais".
Em alguns pontos, é bem difícil separar algumas abordagens psicológicas de uma religião. Muitas são pautadas na autoridade dos seus criadores, tornando tudo o que falam verdade, contanto que seja dito de uma forma poética e encantadora. Críticos são expulsos e o desenvolvimento de novas teorias depende quase que exclusivamente de momentos de epifania de uns e outros.
Diante dessa bagunça que é a Psicologia, não me impressionou nem um pouco ver um vídeo como esse e concluir que, infelizmente, em algumas coisas o cara está falando a verdade.
Obviamente, o vídeo traz várias deturpações. Generaliza todas as psicoterapias como baseadas em conceitos como "ego" e "auto-estima", e diz que nenhuma traz evidências concretas, como se tomasse a Psicologia como um todo unificado (não que eu esperasse que pessoas que se baseiam na Bíblia trouxessem argumentos honestos pra alguma coisa, mas enfim).
Mas, como disse o meu colega Marcus lá no Twitter, enquanto a Psicologia não se preocupar com uma prática baseada em evidências, vai alimentar esse tipo de confusão. Pra que fazer psicoterapia, se Jesus está ali e se há o risco de você entrar em um consultório para ouvir que tem de tomar florais de Bach, melhorar sua auto-estima ou se reconhecer como "ser faltante"?
Concordo plenamente. Tanto que tb (re)twittei esse vídeo.
ResponderExcluirEstamos sucateando a Psicologia.
Ainda tô com os olhinhos arregalados aqui depois de ver esse vídeo! O.o Sempre me surpreendo com a capacidade dessa galera pra fazer conexões muito loucas. Na minha opinião certas igrejas podem funcionar como uma "terapia" pq colocam seu comportamento sobre controle e reforçam comportamentos incompatíveis com o uso de drogas, por exemplo. Ai vai uma pessoa para a igreja pq quer largar o alcool e diz que "Jesus salvou ela"! Agora o perigo disso tudo é bem aquela frase lá do Marcos, versículo sei lá o que: O problema está na pessoa que tá pensando coisas pecaminosas!
ResponderExcluirPs: behaviorist lady ainda é um péssimo nome!
ResponderExcluirEu sempre fui muito ruim com nomes. Juro que tinha pensado em um melhor, mas esqueci. :P
ResponderExcluirEnfim, eu concordo com você. Para alguns, participar de uma religião é bom, sim. Não posso negar que o cara que sai da sarjeta onde fumava crack pra ir ler a Bíblia está muito provavelmente numa situação melhor, onde ele sofre menos. E as igrejas, assim como todo mundo, fazem arranjo de contingências de algum modo. Tornam-se um ambiente que vai reforçar certos comportamentos, punir outros e atribuir isso a Jesus.
O problema está nisso: atribuir a Jesus a sua "cura". O manolo fica sob controle de um conjunto de regras ditado por autoridades, e não aprende a discriminar o que faz ele comportar-se da forma X ou Y. Se o controle pelas regras afrouxar, a chance de ele voltar ao buraco acaba sendo substancial.
A psicoterapia comportamental, pelo menos, vai ter de ensinar o cliente a andar com as próprias pernas em algum momento, até porque uma hora ele vai ter de aprender a descrever contingências e daí em diante estará mais apto a se virar sozinho. Mas neguinho continua querendo amarrar você na Bíblia e te convencendo de que Jesus tem um plano pra você. Aí é foda.
Pedro, valeu por continuar sendo meu "comentarista oficial". Hahaha. Cadeira cativa!
ResponderExcluirTem quem vá discordar do "estamos sucateando a psicologia". "Estamos" inclui a nós. Há quem diga que são "eles", os charlatões que povoam nossa classe, que fazem isso. Mas nós também temos nosso papel. O que eu vejo de AC no carreirismo, se escondendo num casulo e nem aí pra o que acontece do lado de fora, não tá no gibi. Disseminar ciência e ir contra a corrente não é mole, então mais fácil pra quem fica quieto.
Mas isso é outra história, quem sabe pra um outro post. :P
Acho que atualmente a psicologia clínica tem tomado um rumo mais científico, mais pautado em evidências do que há algumas décadas atrás. A TCC vem mostrando resultados animadores e que podem ser comprovados através de resultados bem sólidos. Mas, claro, muitas água ainda tem que rolar.
ResponderExcluirHà algumas exceções, como a França, Brasil e Argentina, os únicos países do mundo onde a psicanálise ainda permanece como abordagem principal, ou melhor, como dogma principal. A psicanálise nos deixou várias boas heranças, mas ela, no geral, é fruto de um conjunto de crenças, de imposturas intelectuais de Freud e seus seguidores (principalmente em relação aos resultados que alardeavam mas que não existiam na prática). Enfim, acho que é possível viver melhor sem Freud. :D
Line,
ResponderExcluirMuito legal o post, acho super importante essa discussão. Uma pena que ela fique tão restrita - acho que está mais do que na hora de regulamentar melhor nossa prática, principalmente no samba de crioulo doido que está a psicoterapia.
Aí eu lembro de Ilka dizendo que nos E.U.A tem que ter doutorado pra ser psicoterapeuta...
Felipe, Julia: pois é! Parece que a coisa tá ruim, mas há uma perspectiva de melhora. Como eu disse no post anterior sobre PBE, o primeiro livro sobre isso foi lançado recentemente aqui no Brasil, sendo que a discussão lá na APA remonta a 2005.
ResponderExcluirNo dia em que recebi o artigo da APA sobre PBE, um professor nosso chegou da Inglaterra contando que lá o serviço público de saúde só coloca a grana em serviços que tenham evidências de que funcionam, e nisso, a psicanálise e outras abordagens do tipo estão morrendo de vez por lá.
No Brasil ainda há uma briga grande a ser comprada, mas pretendo entrar nela até o pescoço. :P
quem comenta agora sou eu rs
ResponderExcluirvocê vai acabar mais behaviorista que eu, Mateus! lol
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