Nas ciências do comportamento, procuramos definir relações entre variáveis. Variável é um evento, situação ou comportamento que possa assumir pelo menos dois valores, que podem ser numéricos ou categóricos.
Um exemplo do primeiro tipo é o desempenho num teste de memória, no qual um número x de acertos corresponderá ao valor da variável em questão. Um exemplo do segundo tipo é o sexo/gênero, não definido como um valor mensurável maior ou menor quanto à magnitude – pode ser apenas definido como masculino ou feminino.
Relações entre variáveis são as formas pelas quais mudanças nos valores de uma variável, definida como variável independente (VI), irão afetar/modificar os valores de outra variável, definida como variável dependente (VD). De forma geral, quatro formas descrevem essas relações: linear positiva, linear negativa, curvilinear e, por fim, a ausência de relação entre variáveis.
Quando o aumento no valor da VI é seguido de um aumento na VD, temos uma relação linear positiva. Quando o aumento na VI é seguido de uma diminuição no valor da VD, temos uma relação linear negativa. Na relação curvilinear, aumentos na VI podem acarretar tanto em diminuição como em aumento na VD – o sentido da relação se modifica pelo menos uma vez. Por fim, na ausência de relação, mudanças na VI não acarretarão mudanças na VD*.
Da esq. para a dir.: relação linear positiva, relação linear negativa e ausência de relação entre variáveis
Exemplo de relação curvilinear entre variáveis
Como, então, podemos conhecer as relações entre variáveis? De forma geral, há duas abordagens possíveis para isso. No método não-experimental, as variáveis de interesse do estudo são observadas ou mensuradas como ocorrem naturalmente. Exemplos são pesquisas de levantamento, como esta, em que os próprios participantes respondem questionários ou escalas sobre seus comportamentos, ou pesquisas fundamentadas em observação naturalística, como esta. É determinado que há uma relação entre variáveis quando estas variam em conjunto, conforme dito acima.
As limitações deste método, basicamente, residem na falta de controle sobre outras variáveis que não as postas em questão no estudo. Mesmo quando uma pesquisa demonstra haver, por exemplo, correlação positiva entre idade da mãe e desenvolvimento cognitivo dos filhos (como demonstrado aqui), uma terceira variável pode ser responsável pelo efeito. Por exemplo, pode ser que mães mais velhas tenham tido acesso a uma maior quantidade de anos de estudo e, por isso, tenham estimulado mais o desenvolvimento cognitivo dos filhos. Ainda com esses limites, pesquisas correlacionais não-experimentais deste tipo são muito úteis para avaliar se há ou não relação entre duas variáveis em populações grandes.
Já no método experimental, ao menos uma variável independente é introduzida num ambiente controlado, ou seja, há a manipulação direta da VI e então é observado/medido o efeito na VD. O ambiente é controlado com o objetivo de reduzir ao máximo a interveniência de variáveis estranhas, sendo estas mantidas constantes. Por exemplo, se quero medir a influência de um treino de habilidades sociais sobre os comportamentos empáticos de pessoas em estudo, devo equalizar diretamente as variáveis no(s) grupo(s) ou, como freqüentemente é feito em experimentos com humanos, randomizar todas as outras variáveis entre os dois grupos, o experimental (que terá a interveniência da VI estabelecida no estudo) e o grupo controle (que não terá a introdução da VI estabelecida), procurando manter características como idade, sexo, nível socioeconômico, e presença/ausência de psicopatologias distribuídas de forma homogênea entre os grupos. Com isso, posso concluir de forma mais segura que aquela variável introduzida no ambiente experimental, e não uma outra, está influenciando o resultado medido.
O método experimental também tem alguns limites. Um dos mais lembrados é a artificialidade, já que experimentos são realizados num ambiente de laboratório geralmente não idêntico ao ambiente natural, o que pode influir nos resultados. Para contornar isso, podem ser feitos, quando possível, experimentos de campo onde a variável é manipulada mesmo no ambiente natural – o controle diminui, mas a artificialidade é reduzida. Outro limite para pesquisas é relativo à ética na manipulação de variáveis, tanto em experimentos com animais, alvo de intensas críticas, como em experimentos com humanos. Ao manipular um ambiente, o cientista deve estar sempre atento a esses aspectos.
Concluindo, como podemos ver, em uma pesquisa científica do comportamento pode-se lançar mão de mais de uma forma de averiguar relações entre variáveis. A escolha de um método em detrimento do outro vai depender de uma avaliação criteriosa das vantagens e desvantagens de cada um em definir tais relações. Os métodos são, ainda, complementares, já que nenhum é perfeito e nenhum estudo científico é definitivo na tentativa de se aproximar da compreensão de um fenômeno.
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*Neste caso, estamos falando apenas de relações entre duas variáveis. No entanto, há diversas pesquisas que estudam a relação entre mais de uma VI e/ou mais de uma VD, tornando o desenho experimental mais complexo. Aqui, um exemplo de pesquisa deste tipo.
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Referências
Cozby, P. C. (2009). Capítulo 4 – Estudo do comportamento. In: ____ Métodos de pesquisa em ciências do comportamento. 4ª ed. São Paulo, Atlas.
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