Meu blog se chama Behaviorist Lady, eu ando com uma camiseta da ABPMC por aí e faço parte da tchurminha conhecida como "a comportamentalista" da faculdade. Já ouvi de muitos que adotar uma teoria tão ostensivamente, ainda mais uma calcada praticamente numa figura só, é preocupante por incorrer num possível dogmatismo e uma certa "cegueira teórica". A teoria behaviorista radical, então, vive apanhando de todo lado: seus defensores passam sempre por chatos já que vão contra um monte de coisas bem estabelecidas na Psicologia. Se é com os psicanalistas, brigam, entre outras coisas, pelo status de ciência da Psicologia. Se é com os cognitivistas, brigam por causa da adoção do mentalismo. De outras abordagens diversas, ganhamos a pecha de reducionistas, mecanicistas, positivistas, nazistas, eugenistas, torturadores de animais FDP, etc. Na maioria das vezes alguns desses termos são usados até erroneamente, mas essa é uma outra história.
Pior ainda quando até o plano de fundo do seu celular é piadinha de analista do comportamento...
Muitas vezes, a crítica é até fundamentada. Tem behaviorista por aí que diz amém ao que Skinner fala sem pensar muito. No entanto, pontos controversos da teoria, como a relação com as neurociências e o papel dos sentimentos em cadeias comportamentais, bem como o malhadíssimo comportamento verbal - o "my precious" do Skinner - já vem sendo revistos após a morte do nosso "guru", que provavelmente iria odiar se me ouvisse chamá-lo assim. (Esclarecimentos sobre tudo isso aqui, aqui e aqui - sobre neurociência temos blogs lindos como o do meu companheiro de Círculo da Savassi pretensiosa eu, magina Daniel Gontijo). Isso sem falar de conceitos que foram criados e aprimorados bem recentemente, como o de metacontingências para falar de comportamento social.
É comum ouvir falar que o behaviorismo radical morreu após a Revolução Cognitiva. Pensei até em linkar aqui textos que falem isso, mas é texto por demais, sô. Boa parte dos manuaizões de psicologia incorre nesse equívoco, bem como textos que falam da gênese da terapia cognitivo-comportamental, por exemplo, que seria uma "evolução" da Análise do Comportamento (tá, só pra não dizer que não matei a cobra e mostrei o pau, exemplos aqui e aqui).
Como teoria científica que é, no entanto, o BR foi se reinventando. Nenhuma teoria abarca o mundo inteiro, mas pode ter aprimoramentos. E, para isso, na maioria das vezes é preciso pensar além das "viseiras de burro" - encontrar coisas a desenvolver e sobre as quais explicações faltam ou são insatisfatórias.
Paradoxal, mas é isso que me faz ser meio tirada a groupie da Análise do Comportamento. Brinco com as "viseiras de burro". Digo que gosto do rótulo e me autodenomino "leidecomportamentalista", ando com a camisa da ABPMC, divulgo a AC sempre que posso, tenho momentos de loucura em que me imagino espetando coletores de saliva na garganta de cachorros por aí...
É comum ouvir falar que o behaviorismo radical morreu após a Revolução Cognitiva. Pensei até em linkar aqui textos que falem isso, mas é texto por demais, sô. Boa parte dos manuaizões de psicologia incorre nesse equívoco, bem como textos que falam da gênese da terapia cognitivo-comportamental, por exemplo, que seria uma "evolução" da Análise do Comportamento (tá, só pra não dizer que não matei a cobra e mostrei o pau, exemplos aqui e aqui).
Como teoria científica que é, no entanto, o BR foi se reinventando. Nenhuma teoria abarca o mundo inteiro, mas pode ter aprimoramentos. E, para isso, na maioria das vezes é preciso pensar além das "viseiras de burro" - encontrar coisas a desenvolver e sobre as quais explicações faltam ou são insatisfatórias.
Paradoxal, mas é isso que me faz ser meio tirada a groupie da Análise do Comportamento. Brinco com as "viseiras de burro". Digo que gosto do rótulo e me autodenomino "leidecomportamentalista", ando com a camisa da ABPMC, divulgo a AC sempre que posso, tenho momentos de loucura em que me imagino espetando coletores de saliva na garganta de cachorros por aí...
... participo de encontros em que testamos o controle aversivo por choques... etc.
Tudo isso, porém, me empolga porque vejo o BR como uma teoria que posso ajudar a construir, tendo uma base sólida abaixo do que eu vier a fazer. Posso utilizar os conceitos sem tanto medo de estar inventando bobagem ou falando algo vazio, já que outros podem revisar, retestar e reelaborar o que eu fiz.
"É característica da ciência que qualquer falta de honestidade acarreta imediatamente desastre. Considere-se, por exemplo, um cientista que conduza pesquisas para verificar uma teoria pela qual já se tornou bem conhecido. O resultado pode confirmar sua teoria, contradizê-la ou deixá-la em dúvida. A despeito de qualquer inclinação em contrário, ele deve comunicar uma contradição tão rapidamente quanto o faria com uma confirmação. Se não o fizer, alguém o fará em questão de semanas, meses, ou, quando muito, de uns poucos anos - e isto será mais prejudicial ao seu prestígio do que se ele próprio o tivesse relatado. Onde o certo e o errado não são tão fácil e rapidamente reconhecidos, não há uma pressão similar. A longo prazo, a questão não é tanto de prestígio pessoal, mas de procedimento eficiente. Os cientistas simplesmente descobriram que ser honesto - consigo mesmo tanto quanto com os outros - é essencial para progredir" (Skinner, 1953, p. 13).
Enfim, o risco de ser dogmático e pensar que a AC resolverá todos os problemas do mundo, não dando atenção ou crédito a outras teorias, existe sim. Porém, há que se lembrar que essa não é uma atitude condizente com o que a própria base teórica da Análise do Comportamento professa.
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Referências
Skinner, B. F. (1953/2003). Cap. 2 - uma ciência do comportamento. In: ____. Ciência e comportamento humano. 11ª ed. Martins Fontes, São Paulo.
Lindo, Aline. Essas viseiras de burro me lembram aquela frase "Se lhe ensinassem que os elfos causam a chuva, toda vez que chovesse, você veria a prova dos elfos."
ResponderExcluirSempre que leio argumentos pouco flexíveis sobre a consideração de qualquer teoria com um teor de verdade altamente empregado e criticando outras sem um bom embasamento, essa frase parece brilhar em cada linha escrita.
É comum ver estudantes de qualquer teoria se fecharem completamente mesmo à compreensão de outras como um filtro na percepção, a partir da tentativa de entender o mundo pela sua abordagem, fechando-se até à possibilidade de compreender o que o outro está tentando lhe transmitir (e que muitas vezes nem é concorrente). Isso ocorre principalmente no início da faculdade (mas dura em muita gente por aí), quando as descobertas referentes a qualquer abordagem da psicologia são fortemente reforçadas pela suposta guerra que ocorreria entre os teóricos famosos, a falta de compreensão do que é realmente o conhecimento e o ego ainda se alimentando de debates superficiais e de alcunhas do tipo "cientistas", "humanistas", "sócio-críticos" etc. E assim, não perceberem que na verdade estão agindo como verdadeiros pseudocientistas.
O que nos faz cientistas não é puramente a aplicação do médoto cientifico ou experimental, mas é também o desejo por alcançar o máximo possível de conhecimento, mesmo que ele faça ruir todas as nossas crenças, sabendo que nunca será possível alcançar uma verdade absoluta.
Obrigada, Marcus! :)
ResponderExcluirPois é, e mesmo aqueles que seguem teorias científicas na Psicologia muitas vezes têm atitudes tão dogmáticas quanto os outros. Saem rejeitando tudo o que disseram que "não é científico", quando na verdade uma atitude mais próxima do fazer ciência seria a cética: buscar evidências do que acontece, suspendendo qualquer julgamento antes disso. Embarcar de cabeça em picuinhas teóricas muitas vezes nos impede de fazer isso já que antes de qualquer coisa fica a "minha teoria". Já vi muita gente fazendo isso, por sinal.