quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Tornar-se feminista - controle de estímulos, comportamento e feminismo

Quem me conhece pessoalmente e/ou acompanha há algum tempo minha vidinha VIP (Very Internet Person) sabe que, de uns tempos pra cá, me interessei pelo feminismo e comecei a estudá-lo mais ou menos sistematicamente. Começou faz pouco tempo. Meu interesse surgiu nos tempos do auge do Femen Brasil, um par de anos atrás. Talvez vocês se lembrem daquelas moças, entre elas uma garota bonita e loira com um quê de Marilyn (a líder Sara Winter), que eram clicadas fazendo manifestações com os seios de fora e uma guirlanda de flores na cabeça. Me lembro especialmente de uma manifestação contra as lojas Marisa e outra contra o turismo sexual.

Naquela época, também chegou e começou a fazer barulho em terra brasilis a Marcha das Vadias, adaptada das Slut Walks que ocorreram pelo mundo após um policial canadense declarar que para as garotas não serem estupradas, deveriam se vestir de forma, digamos, mais comedida. As Marchas aglutinaram reivindicações do novo feminismo, e talvez por questões de zeitgeist, se confundiam na mídia com as manifestações das brasileiras do Femen. Portais de notícias faziam extensas galerias de fotos de garotas com os seios de fora e os corpos pintados, carregando cartazes e gritando palavras de ordem contra diversas situações pelas quais as mulheres passam.

Eu já estava em vias de me formar, ou formada, não me lembro bem, e essas discussões me chamaram a atenção. Primeiro porque eu não conseguia casar aquilo tudo com a ideia que eu tinha de feminismo. O que eu conheci sobre o movimento veio da via de senso comum e dos poucos contatos com feministas que tive durante a faculdade de humanas. Minha visão era uma espécie de amálgama de características positivas - mulheres que estavam lutando por seus ideais, afinal - e, mais que as primeiras, negativas - mulheres que só falavam em aborto (do que eu era contra), que pregavam uma liberação sexual que eu não entendia bem (pra mim tinha a ver com se tornar não-monogâmica ou bissexual ou lésbica, uma visão extremamente ingênua e tacanha da minha parte da qual até hoje me envergonho), que tinham relações intrínsecas com a política partidária (o que vinha do que eu via nos movimentos da faculdade) e, principalmente, que eram agressivas e hostis e por isso eu tinha medo de me aproximar pra perguntar ou esclarecer minhas dúvidas. Enfim, era uma visão bem de senso-comum de feminista como "gorda-feia-lésbica-que-queima-sutiã-não-se-depila-e-faz-aborto-como-quem-troca-de-camisa". Talvez uma visão só um pouquinho menos estreita que isso.

Ao ver todas aquelas manifestações e mulheres juntas, eu fui pesquisar na internet informalmente pra tentar captar qualé. Vi que, apesar de serem colocadas pela mídia frequentemente como tudo a mesma coisa, Marcha das Vadias e Femen Brasil tinham ideais diferentes e não eram tocadas pelas mesmas pessoas. Percebi, curiosamente, que parecia que o Femen, tido pela mídia como retrato da feminista-que-grita, na verdade não era um movimento nem um pouco unânime pra quem já estava dentro do barco do feminismo há mais tempo. "Ué, todas tiram a roupa e protestam, qual que é a diferença?". Long story made short, fui chegando aos pouquinhos, lendo vários textos, assistindo coisas, participando de grupos de debate, escutando e falando, e, bam!, percebi que eu era feminista.