sexta-feira, 3 de junho de 2016

Chega aí, chega aí

De uns dias pra cá muitas feministas têm me adicionado em redes sociais - a maioria, aparentemente, mais jovens que eu. Tenho visto tantas outras se engajarem no movimento. 

Eu tenho só 26 anos. Vivi algumas experiências que me enriqueceram, não vivi muitas outras. Se eu tivesse de resumir o que posso dizer sobre feminismo, baseado nessas poucas experiências de vida, eu diria:

  • Não aprenda sobre feminismo só lendo no Facebook textos de feministas como eu. Questione (inclusive este texto, pois sim me contradigo!)
  • Quando tiver uma dúvida sobre o movimento, pesquise, leia, procure saber de mais de uma fonte. Leia coisas de feministas proeminentes diferentes, abordagens diferentes, vertentes diferentes. Mas que sejam de FEMINISTAS. Mulheres que assim se posicionem, não blog de hominho que acha que pode falar sobre o que quiser.
  • Não ceda à tentação de chamar feministas famosas na internet de "divas", transformá-las em ícones, ídolos que viram estampa de camisa, declarar seu amor a elas, fazer memes ~lacradores~ com imagens e frases delas. A cultura de ídolos nos afasta de nossas falhas, transforma pessoas comuns em semideusas. E todas falhamos, e não é pouco.
  • Converse com mulheres. Não se sinta obrigada a amá-las nem a virar melhor amiga, mas as escute. escute experiências diferentes e opiniões diferentes da sua, especialmente daquelas que acham o feminismo coisa de outro mundo, mas não se agrida no processo. Faça o que você pode. Não ache que é responsabilidade sua converter ninguém ou mudar a cabeça de ninguém - não é. Você pode contribuir, mas não adianta queimar demais o juízo. Forneça a contingência e o resto anda sozinho. Só converse. De igual pra igual, pois é o que temos.
Pretendo editar esse post qualquer dia. Riscar o que não cabe mais, acrescentar o que for. Aprendo todos os dias e pretendo continuar aprendendo.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Tarados e denúncias, homens e mulheres e comportamento verbal

Compartilhei a denúncia de uma moça aqui de Curitiba de que um cara havia ejaculado nela no biarticulado. Quem conhece sabe que é um busão que vive cheio e que tem muita gente jovem que pega porque ele passa pelos campus centrais das faculdades aqui. A foto era bastante gráfica e aparentemente ela acabou apagando a denúncia, que gerou comentários e mais comentários de apoio e dúvida do relato, mas vou dar meus dois centavos. Quem me acompanha sabe que eu não tenho lá muito saco pra isso porque as consequências são nada reforçadoras pra mim, mas dessa vez pedidos específicos de amigas foram estímulo pra isso aqui (Marcela, sua linda).

Se é verdade ou não é verdade o caso compartilhado é outra questão. Eu, pessoalmente, não duvido por um segundo. O fato é que não é um caso isolado. A prática masculina de se masturbar com fricção em mulher no transporte público é tão conhecida que tem nome e caracterização no DSM e na CID: frotteurismo, uma parafilia sexual. Curiosamente é uma dessas "doenças mentais" de fundo sexual que praticamente só dá em homem. Em qualquer site pornô que vocês entrem tem vídeos e mais vídeos - "profissionais" e "amadores", cuja diferença na minha opinião está unicamente no tipo de olhar masculino, mas isso é outra questão - dedicados à prática. Os japoneses são conhecidos por ter "fetiche" com isso, tem até hentai. No Brasil, vira e mexe acontecem casos. Consistentemente nos últimos tempos, o metrô de SP recebeu denúncias do tipo e lançou uma campanha contra a prática, que continua muito controversa tanto quanto à sua execução quanto à efetividade dela.

Falar sobre a prática é só uma introdução pra eu falar sobre a questão das denúncias. Quando compartilhei a imagem, houve muitas manifestações masculinas, na postagem, no inbox. O comportamento masculino de se enojar com a situação pode, sim, ser legítimo. Mas não é suficiente, por dois motivos: 1) dizer que se enoja numa postagem de Facebook é unicamente comportamento verbal controlado por contingências específicas operando ali, que não necessariamente controlam a mesma classe de resposta na situação em questão; 2) dizer que se enoja objetivamente não faz diferença alguma no combate ao problema, justamente porque os controles do comportamento são bem diferentes nas duas situações.

"Mas eu tive nojo. E eu tento não ser machista. Não posso dizer isso?"

Pode. Mas dizer que não é machista e que a situação é aviltante objetivamente fará diferença no restante do seu comportamento? Conhecendo a série de contingências que opera reforçando uma série de comportamentos machistas e punindo os "não-machistas", a resposta pra mim é: DUVIDO.

"Mas eu não falei porque queria confete. Eu só descrevi o que senti." [No jargão: tateei algo, não era um mando.]

Daora. Mas "querer" não faz diferença em ter o dito comportamento reforçado ou não. O rato não tem a resposta reforçada porque "quer" a água que veio com a pressão da barra. Ele simplesmente aperta e o apertar é reforçado. Em tempos de redes sociais as pessoas estão cada vez mais LOUCAS DO CU por likes, duvido que todo mundo tenha consciência de que faz o que faz porque "quer likes". Consciência das contingências que operam sobre nós é outra história.

---
TL;DR: me lembro de uma máxima do Hélio Guilhardi que ouvi mais de uma vez. "Não acredite em comportamento verbal".

Nós mulheres sabemos o quanto isso dói em nós e o quanto isso é real. Os homens mal começaram a aprender.

[Texto publicado originalmente no meu Facebook]