domingo, 18 de setembro de 2011

XX Encontro da ABPMC - I Encontro Sul-Americano de Análise do Comportamento

Na semana passada, tivemos aqui em Salvador o que já considero um marco da Análise do Comportamento no Brasil: o XX Encontro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental.

Pela primeira vez o evento ficou fora do eixo Sul-Sudeste, o que é indispensável para o fortalecimento da Análise do Comportamento no Brasil como um todo. Muitos, como eu, tiveram a oportunidade de ir pela primeira vez ao Encontro da associação que representa os ACs do Brasil.

Desde o começo o Encontro já prometia. Também era, concomitantemente, o I Encontro Sul-Americano de Análise do Comportamento. Com isso, tivemos várias presenças internacionais. Foi bem interessante conhecer o que vem sendo feito em AC fora do Brasil. A maioria dos convidados era dos EUA (como o Kelly Wilson, que fez uma comunicação bastante elogiada sobre uma experiência de AAC no delta do Mississipi, além de outras sobre ACT; o Jackson Marr, que falou sobre motivação; e a Sigrid Glenn, que falou sobre os estudos em Cultura na Análise do Comportamento, dos quais ela é, talvez, a representante mais importante) - mas houve palestrantes de outros países, como Venezuela, Noruega, Portugal, Irlanda do Norte e Argentina (é... existe AC até na Argentina!).

Mesa de abertura, com a presidente da ABPMC, profª Martha Hübner, ali no púlpito

No total, segundo informações da organização do Encontro, tivemos:
  • 52 mini-cursos;
  • 25 primeiros passos;
  • mais de 100 mesas, simpósios e comunicações coordenadas;
  • 50 palestras;
  • 230 comunicações orais.

Uma delas foi minha, resultado do trabalho em grupo sobre a efetividade do THS infantil. :) 
15 minutos pra apresentar o trabalho de um ano e meio é exercitar sua capacidade de síntese até onde dá!

Eram 17 atividades simultâneas, então, como bem escreveu o Denis Zamignani (organizador do XX Encontro), fez falta o dom da ubiquidade. Ler o programa antes do evento ajudava, mas a depender dos atrasos que inevitavelmente ocorriam em algumas salas e do tipo de comunicação que você queria ver, o negócio era sair correndo mesmo pra ver se achava algo legal ainda a tempo.

O Encontro foi a chance, para muitos como eu, de encontrar e debater com pessoas que conhecemos apenas pelas suas produções acadêmicas. Valeu muito a pena ver a Sigrid Glenn apresentando o resumo de toda a estrutura conceitual que ela vem desenvolvendo nos estudos sobre cultura e poder também vê-la debater sobre coisas das quais ela talvez não fale tanto (como foi o caso da ótima pergunta do prof. Angelo Sampaio, que fez a Glenn pensar no que existe quanto às aplicações das pesquisas geradas pela área que ela desenvolveu, por exemplo). Fora as muitas outras oportunidades de perguntar, discutir, ouvir (e ver todo aquele pessoal na hilária festa à fantasia... hehehe).

Vi os minicursos da profª. Sigrid Glenn e da profª Maria Amália Andery e do prof. Emmanuel Tourinho sobre processos culturais, e também o da prof. Maria Helena Hunziker sobre Análise Biocomportamental. Todos maravilhosos não só por apresentar um panorama do que já existe sobre tais assuntos, mas também por suscitar questões e deixar todo mundo, ao sair, com vontade de estudar mais. (O estudo da orientanda da Hunziker que oferece evidências a favor da homeopatia em ratos em desamparo aprendido, por exemplo, foi um rebuliço só. Ainda vou ler!).

Prof. Tourinho no minicurso sobre pesquisa de processos culturais e as contingências de suporte, outro conceito que eu não conhecia antes daí

Assisti muitas comunicações orais, mesas e simpósios. Muita coisa legal e, sempre, a dor na consciência de estar perdendo outra coisa em outra sala também legal. Assisti comunicações sobre a FAP, sobre aplicações da AC à cultura, sobre controle aversivo, sobre fundamentos filosóficos (entre elas a do Pedro Sampaio sobre os "ismos" com os quais nos cutucam erroneamente), sobre neurociências... Tentei ver os painéis, mas não deu muito certo (eram MUITOS trabalhos juntos, concorrendo com o coffee-break ali do lado e fazendo todo mundo se acotovelar como não poderia deixar de ser. O que consegui ver melhor foi um do Daniel Gontijo e colaboradores sobre inteligência e religiosidade, muito legal). E, claro, como ninguém é de ferro, tirei uma de turista e em um ou outro intervalo, fiquei na prainha à frente do Pestana por diversas vezes. Se pra mim, que não estava fazendo turismo, foi irresistível, imagina pro pessoal que veio de outros lugares.

Painel disponível para que os participantes assinassem. 
Quem achar meu nome ganha um R+

A quantidade de pessoas trabalhando para que o Encontro funcionasse também foi impressionante. Todos os detalhes eram muito bem cuidados por toda a equipe. Destaque especial aos monitores e coordenadores que corriam de um lado para o outro.

Parte dos monitores (de amarelo) e organizadores, tendo ao centro Martha Hübner, Denis Zamignani e Roberto Banaco

Vale muito a pena passar por esses dias de imersão na Análise do Comportamento. A quem já foi, recomendo ir de novo nos próximos Encontros, e a quem nunca foi, dobro a recomendação. :) O evento tem uma importância ímpar na difusão da Análise do Comportamento e este, especificamente, foi bem-sucedido nisto, já que pela primeira vez os participantes de uma outra região que não o Sudeste compareceram em peso. O número de participantes do Nordeste, que era sempre pequeno, ficou praticamente igual ao do Sudeste, o que prova que interesse em AC por aqui não falta - ainda mais contando com o fato de que, como já acontece há tempos, a maioria dos participantes é de estudantes de graduação.

Mesa de encerramento, com a agora antiga Diretoria da ABPMC

Foi eleita e apresentada ao público a nova diretoria da ABPMC, capitaneada pela profª Cláudia Oshiro. Os ideais de difusão e avanços científicos em Análise do Comportamento serão mantidos por essa nova diretoria. A proposta aprovada pode ser conferida aqui.

Platéia no encerramento. 
Pra quem tem boa visão: do lado direito tem o Angelo Sampaio, o Marcelo José e o Alexandre Dittrich

Outro momento importante do evento foi o Prêmio Sustentabilidade, que premiou três dos trabalhos que promovem a sustentabilidade utilizando o referencial da Análise do Comportamento. O tema não ficou só na divulgação - todo o evento foi construído de forma a buscar o ideal de sustentabilidade. Não por acaso se via gente estranhando o copo de papel e palha de milho usado pra beber água...

Painel em homenagem aos que ajudaram a construir a AC no Brasil e já se foram. 
Embaixo, ao centro, a profª Mercedes Cunha de Carvalho, uma das fundadoras do meu curso

Para os próximos Encontros fica a tarefa de superar este, o que não será fácil. Espero poder estar lá de novo. ;)

4 comentários:

  1. Aline,
    Adorei o seu texto. Você resumiu esse grande evento com estilo. Parabéns!!!
    Sou uma das monitoras do evento (estou atrás da Martha, na foto do seu post).
    BeijO

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  2. Pois é Aline, até para a gente que já foi a muitas ABPMCs (desde 2002), cada encontro é especial em descobertas e trocas. Com os anos a programação tem ficado ainda mais rica em diversidade, e com a carga horária mais extensa para dar conta de tanta produção.
    Parabéns pelo texto, estou torcendo para que o seu entusiasmo só faça crescer!
    Um abraço
    Marcela

    Ps.: Eu apareci na última foto também, do ladinho do Zé e bem na frente do Angelo!!! hahaha (fiquei até vermelha quando vi, rs)

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  3. Estou honrado de ter sido mencionado. =)

    Gostei muito de ir e, no geral, achei o evento muito bom. Mas foi um pouco chocante constatar o que eu já deveria saber: muita política, muitos "grupinhos", muito uso de falácia em debates (juro que esperava maior honestidade intelectual de algumas pessoas), enfim, posturas pouco científicas.

    Recebi inclusive conselhos de autoridades da área durante a ABPMC que me aconselharam a não me preocupar tanto com "honestidade intelectual", nem achar que "comprometimento com o conhecimento e postura científica" vai me ajudar, mas que eu faria melhor em saber ceder, calar quando deve, agradar as pessoas certas, defender seu terreno e conseguir aliados.

    Fiquei com medo. Espero nunca, nunca ser assim. Sigo acreditando que se trata de uma minoria, que vê o empreendimento científico como uma guerra de trincheiras.

    Escolho viver um pouco mais afastado desse meio, em minha "ingenuidade", pensando, produzindo e tentando mudar o mundo.

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  4. Obrigada pelos parabéns, meninas! Espero que continuem acessando o blog. :)

    Marcela, seu rosto me era familiar, assim como o de um monte de gente aí da foto, mas pra não dar bobeira coloquei apenas o nome de quem eu sabia. Hehehe

    Pedro, me surpreende que você tenha se surpreendido (rs). De algumas coisas eu já sabia e outras eu imaginava. Eu, inclusive, vi de pessoas que eu admirava (e acho que você também, já que em um episódio desses você também estava vendo a mesma apresentação que eu) umas atitudes "baba-ovo" que não condizem nem um pouco com um evento de uma associação que se propõe a fomentar a ciência e o desenvolvimento de uma atitude crítica.

    Essas vem de uns e outros, no entanto. É uma espécie de carreirismo que se vê, demais, nas instituições ligadas a academias. As pessoas trocam favores quando estão em relações de poder, e isso acontece não só na Análise do Comportamento. Não sei até que ponto isso prejudicou ou vem prejudicando o crescimento da mesma, embora isso seja de se desconfiar que tenha acontecido sim.

    Sempre ouço histórias que põem em xeque a idoneidade de alguns, mas, ao contrário de você, acho que não se deve ficar "afastado", não. O quanto possível, devemos tascar o dedo no que vemos de errado e é nesses eventos que temos uma boa chance de fazer isso, afinal tá todo mundo lá. Ficar isolado pode até ser benéfico para ir contra uma possível "contaminação", mas, de qualquer forma, vai criar um nicho, uma "oposição" que também pode não chegar ao objetivo de modificar as coisas.

    Uma Associação deve ter justamente o intuito de ser maior que seus membros, uma metacontingência, digamos assim. Acho importante participar e estar próximo do que acontece de bom no meio pra também estar mais apto a separar o que há de ruim. E sei que você tem uma grande capacidade crítica (que alguns nem têm) de ver quando a coisa não tá encaixando ali, então, acho que você pode e deve continuar participando de coisas assim pra encher o saco quando precisar. Não siga o conselho que você recebeu. :P

    Enfim, ficou meio confusa minha réplica, mas qualquer coisa tamos aí.

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